A casa
Silêncio. Os sons da casa ainda dormem, petrificados no ar gélido da madrugada. O compasso de respirações adormecidas, longe e perto, tenta embalar-me e levar-me de novo. Porém, mantenho-me desperta, apreciando a serenidade do mundo quando todos dormem quando todos se perdem em si mesmos enquanto eu tento apenas encontrar-me. Aos poucos, o negro do quarto torna-se cinzento e do cinzento começa a surgir a cor. Com a cor, despertam também os sons da manhã e com eles os sons da casa. O roçagar dos lençóis faz-se ouvir uma porta range devagar o soalho estala cedendo sob o peso de pequenos passos hesitantes. A casa acorda. Passos maiores ressoam pelos corredores tal como o som de conversas ainda sussurradas as águas dos banhos os barulhos matutinos da cozinha e os seus cheiros, sempre os seus cheiros. Deixo a minha busca e o meu silêncio e entrego-me a um dia preguiçoso partilhado com rostos que são os de sempre mas nem todos os de todos os dias. As conversas já não são su...