se por caso descobrires diz qualquer coisa, é a segunda vez que aqui venho parar (com 4 anos de intervalo), novamente por causa da inquietação do pólen
Trabalho há onze anos. Nos primeiros três - quase quatro - fiz estágios, passei recibos verdes, dei explicações para poder equilibrar um salário baixo e pagar as contas, estive um mês e meio sem emprego, enviei uns noventa curriculos nessa altura, tive que aceitar outro estágio, apesar de ter mais de dois anos de experiência... no fundo, fui precária. É claro que tudo teria sido mais fácil se me tivesse mantido em casa dos meus pais, mas não me fazia sentido aos vinte e três anos não ser independente. Fiz o que estava ao meu alcance para lutar por essa independência, passei mesmo por algumas dificuldades, mas consegui. Quando me casei, as coisas tornaram-se um pouco mais fáceis, mas havia sempre um sentimento de insegurança que advinha do facto de estar sempre na corda bamba, e esse sentimento só passou quando entrei para os quadros de uma empresa. Porquê? As razões de cariz financeiro são as mais óbvias. Ter estabilidade financeira...
Uma inquietação de pólen suspende o voo da abelha. Capturo-a com os dedos da alma, e ouço-a zumbir na minha cabeça, num limiar de memórias que fazem parte de um verão carregado de amêndoas e alfarroba. Veio depois o zangão com o seu canto áspero; e entreguei-lhe esse corpo deitado na minha mão, queimado pelo sol do meio-dia. Assim, entre os declives da terra e os corais do olhar, esqueci um presságio de azul. Ter-me-iam confundido com um antigo profeta, desses que pedem a esmola de uma certeza em cada canto da vida; ou pedir-me-iam o nome de cada um deles para completar os livros de frases inaudíveis como as vozes apagadas pelo vento, como esse murmúrio nascido num eco de travesseiro, como o desejo gritado no instante do naufrágio: e em vão lhes confessei ter perdido todos os sonhos, e nada ter para lhes dar. Por vezes, digo, este pólen branco que sobra nas corolas secas do inverno serve de alimento aos famintos de amor: e vejo-os partirem pelos campos, em busca de ima...
Passo as minhas mãos pela lisa superfície que é a tua alma Dela, sinto apenas o áspero roçagar da fina camada de areia que a cobre Da areia que esconde qualquer porosidade, qualquer imperfeição Como nada sinto, penso partir Mas um súbito e inusitado cansaço faz jazer o meu corpo sobre ela E escutar Apenas oiço um vago murmúrio, tão distante como as profundezas da terra Presto atenção Parece uma voz que me traz palavras sumidas E tambores E silêncio E novamente a voz, agora mais clara E silêncio. Ainda deitada, tento afastar a areia e percebo que o solo, apesar de endurecido pela seca se desfaz com a força dos meus dedos Lentamente... De gatas, raspo-o vigorosamente e tento escutar Apenas silêncio. Mas sei que não adormeci e que a voz é real Os tambores ainda ecoam em mim e abafam o insuportável som desse silêncio Continuo a escavar, freneticamente, agora com as mãos Sinto as pedras a cortarem-me os dedos e a terra a entranhar-se nas feridas Não me importo porque...
se por caso descobrires diz qualquer coisa, é a segunda vez que aqui venho parar (com 4 anos de intervalo), novamente por causa da inquietação do pólen
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