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A mostrar mensagens de fevereiro, 2011

Vem

É negra a venda que me inibe o olhar, Que me desorienta na minha busca incansável, deixando-me entregue apenas ao tacto. Sim, porque o silêncio que me rodeia faz tanto tempo ensurdece-me, o fel dos amargurados como eu devolve à minha boca o acre metálico dos momentos perdidos, tão intenso que me impede de respirar. Fico eu e o tacto. Apenas nós. Surda, cega, muda, talvez, exploro o que me rodeia Em busca de formas outrora familiares que me tragam a sensação perdida de serenidade, a sensação de mar. Tacteio-me, então, sentindo-me frágil. Coberta de andrajos e remendos de vida, com a cabeça envolta no traje dos renegados, dos abnegados, o chão acolhe-me como se fosse o meu eterno horizonte. E sinto-o sob mim, gélido, imundo, tão diferente de ti. Tão diferente de como te recordo no esquivo momento em que os carrascos que carrego aqui dentro me desvendaram e levaram à tua presença, permitindo-me sentir-te pela primeira vez, livre do escudo e das armas com que sempre me defendo. Mas foi ape...

Passou por mim e sorriu

Ele passou por mim e sorriu, E a chuva parou de cair. O meu bairro feio tornou-se perfeito, E o monte de entulho, um jardim. O charco inquinado voltou a ser lago E o peixe ao contrário virou. Do esgoto empestado saiu perfumado Um rio de nenúfares em flor. Sou a mariposa, bela e airosa, Que pinta o mundo de cor-de-rosa, Eu sou um delírio do amor. Sei que a chuva é grossa, que entope a fossa, Que o amor é curto e deixa mossa, Mas quero voar, por favor! No metro enlatados, corpos apertados, Suspiram ao ver-me entrar. Sem pressas, que há tempo, dá gosto o momento, E tudo o mais pode esperar. O puto do cão com o seu acordeão, Põe toda a gente a dançar. E baila o ladrão com o polícia pela mão, Esvoaçam confetis no ar. Sou a mariposa, bela e airosa, Que pinta o mundo de cor-de-rosa, Eu sou um delírio do amor. Sei que a chuva é grossa, que entope a fossa, Que o amor é curto e deixa mossa, Mas quero voar, por favor! Há portas abertas e ruas cobertas De enfeites ...

Pablo numa parede de Alfama

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