Vem
É negra a venda que me inibe o olhar, Que me desorienta na minha busca incansável, deixando-me entregue apenas ao tacto. Sim, porque o silêncio que me rodeia faz tanto tempo ensurdece-me, o fel dos amargurados como eu devolve à minha boca o acre metálico dos momentos perdidos, tão intenso que me impede de respirar. Fico eu e o tacto. Apenas nós. Surda, cega, muda, talvez, exploro o que me rodeia Em busca de formas outrora familiares que me tragam a sensação perdida de serenidade, a sensação de mar. Tacteio-me, então, sentindo-me frágil. Coberta de andrajos e remendos de vida, com a cabeça envolta no traje dos renegados, dos abnegados, o chão acolhe-me como se fosse o meu eterno horizonte. E sinto-o sob mim, gélido, imundo, tão diferente de ti. Tão diferente de como te recordo no esquivo momento em que os carrascos que carrego aqui dentro me desvendaram e levaram à tua presença, permitindo-me sentir-te pela primeira vez, livre do escudo e das armas com que sempre me defendo. Mas foi ape...