A sala
Fecha os olhos. Imagina-te numa sala sem portas, sem janelas. O ar está viciado, quente, a roupa cola-se ao corpo. A boca está sequiosa por uma gota de água doce. Não gostas do que sentes, mas já te habituaste. Pensas no que farias se se abrisse uma janela no nada que te rodeia. Acreditas estar melhor assim. Ser-te-ia insustentável respirar o ar de outros ventos, sentir a chuva a entrar pelos teus poros, a envolver-te nos seus dedos languidos. Tragar a água que o céu te dá. Insustentável. Para quê arriscar que a luz me cegue, se a escuridão me permite não perder a visão? Mas o que vês tu, no escuro? Não vejo, mas poderia ver. Para quê arriscar? Estou na melhor situação possível. Contentas-te com a tua pele pegajosa, conténs a tua sede. O conformista. O conformado. Tudo porque julgas estar melhor assim. Porque poderias voltar a sentir o vento, a chuva, a luz, tudo isso. Mas poderias perdê-las de novo. É isso que temes. Que te voltem a fechar na sala escura e húmida. É melhor ficar...